Como todo mundo sabe, eu devo ser a única pessoa do mundo que não acha graça nos filmes do Scorsese. Sim, ele fez muitos, todos diferentes e é um bom diretor de atores. "Taxi Driver" certamente marcou toda uma geração, "Alice Não Mora Mais Aqui" é um clássico dos workshops para futuros roteiristas, "Cassino" nos deu possivelmente a melhor atuação de Sharon Stone e "A Época da Inocência" é um filme bonito (arruinado pelo penteado de Michelle Pffeifer, mas bonito). Em 2004 eu quase me rendi com "O Aviador", mas o filme é longo demais, Di Caprio é jovem demais e Kate Beckinsale como Ava Gardner... francamente.
Mas 2006 é o ano do cara, porque todo mundo está adorando "Os Infiltrados". Então, eu resolvi que ia adorar "Os Infiltrados" também. Comprei meu ingresso, me acomodei na poltrona do cinema, tive que aturar o trailer do filme do Kevin Costner pela milésima vez, tive que aturar o trailer de "Eragon"(dublado, ainda por cima), tive que limpar as lentes do meu óculos duas vezes - tudo isso porque eu queria muito adorar o novo-super-maravilhoso-revolucionário-arrebatador filme do Scorsese.
Enfim.
O filme é chato. O roteiro tenta ser confuso de propósito, para a trama parecer intrincada. Os personagens parecem programados para agir sempre da mesma maneira - não há nenhuma nuance. São robôs, como as mulheres em Stepford. Matt Damon está lá, com a velha cara de origami mal-feito, tentando ser frio e calculista, mas ele já fez isso antes - e melhor - na franquia do Bourne e no "Talentoso Ripley". O personagem de Matt Damon é um cara chato, que sequer parece inteligente e ambicioso como deveria ser. Leonardo di Caprio já foi um ótimo ator, mas agora que a sua testa está permanentemente franzida (podia rolar um Botox, não?) e ele cismou em ser James Dean, suas atuações são todas parecidas - como as músicas do Djavan. Ele também já fez isso antes - e melhor - em "The Basketball Diaries" e até mesmo no próprio "Aviador". E, para completar, meu querido Jack Nicholson também não contribui muito para o casting, porque (correndo o risco de soar repetitiva) tenho que confessar: ele já fez isso antes também. Aliás, ele vem fazendo isso a vida inteira.
Marky Mark (eu a-do-ro usar o velho nome de guerra dele) não está mal, mas a coisa é toda tão equivocada que, no final das contas, who cares? Alec Baldwin e Martin Sheen podiam estar em um episódio qualquer desses 'Law and Order' da vida, que não faria a menor diferença. E ainda enfiaram uma psicóloga que passa duas horas sem dizer a que veio. Podia pelo menos ser uma psicóloga gostosinha, mas nem isso.
As grandes reviravoltas, o grande plot point... bom, eu devo ter perdido essa parte. O filme é medíocre (sem ofensas), medíocre no sentido etimológico de 'na média'. Não é um grande roteiro, não é uma direção inovadora, não tem uma edição eletrizante, nem atuações inesquecíveis. Ou seja, saí do cinema sem conseguir jogar a minha moedinha no chapéu do Sr. Scorsese. Ele fica lá, esticando a mão, mendigando um posto entre os meus diretores favoritos, mas eu simplesmente não consigo gostar do cara.
Será que são as sobrancelhas?